Agência Brasil
O advogado Jader Marques, que representa
Elissandro Callegaro Spohr, um dos sócios da Boate Kiss, disse hoje (30)
que o estabelecimento estava em “plena condição” de funcionamento no
momento do incêndio. Para ele, o que ocorreu na noite da tragédia foi
uma “desastrosa” operação de resgate por parte do Corpo de Bombeiros.
“Foi
uma desastrosa e deficiente operação dos bombeiros. Os bombeiros
estavam com máscaras devidas, estavam com equipamento? Não. Mais grave
do que isso, eles próprios, se sentindo impotentes, usaram os civis
[para auxiliar no resgate]”, disse em entrevista coletiva.
Marques
destacou, no entanto, que vários fatores contribuíram para o episódio,
além da deficiência dos bombeiros. “Desde as autorizações, a banda [que
usou os fogos], os bombeiros, não foi uma só causa, estamos diante de um
fato que poderia ter acontecido em qualquer casa aqui em Santa Maria”,
disse.
Ontem (29), o delegado regional da Polícia Civil, Marcelo
Arigony, que coordena as investigações do incêndio, disse ter certeza de
que o funcionamento do estabelecimento era irregular. De acordo com
ele, uma série de circunstâncias possibilita “até a uma criança”
concluir que a casa não deveria estar funcionando.
Segundo o
advogado, a documentação estava em dia, e a boate tinha um Alvará de
Prevenção e Proteção contra Incêndio que comprova que o Corpo de
Bombeiros foi ao local e fez vistoria. Questionado sobre a validade do
documento, Marques reconheceu que estava vencido.
“O alvará
venceu, mas o que isso provoca? Nenhuma consequência. Em agosto [de
2012] expirou o papel do alvará. Mas nas condições da casa não houve
alteração de nada. Não houve uma sequer alteração da casa. O que havia
era um problema documental.”
De acordo com ele, o alvará emitido
pelos bombeiros venceu em agosto de 2012 e, em outubro, foi feito o
pagamento do pedido de um novo documento.
Em nota, o Corpo de
Bombeiros diz que, mesmo com o alvará vencido, a boate poderia
funcionar, pois não há previsão legal para interdição imediata. “De
acordo com o alvará anterior [vencido em agosto de 2012], os sistemas de
prevenção de incêndio previstos na lei estavam instalados e operantes.
Assim, enquanto tramita o pedido de renovação do alvará, não há previsão
legal para interdição imediata determinada pelo Corpo de Bombeiros,
cuja competência é limitada às questões relacionadas ao sistema de
prevenção de incêndio”, diz o texto do documento, divulgado no final da
noite de ontem (29).
Segundo o advogado, a casa noturna não
estava lotada. De acordo com ele, havia uma dinâmica de funcionamento da
boate: deixava-se entrar cerca de 600 pessoas e depois só eram
autorizados novos ingressos quando uma pessoa saía. Foram postos à venda
850 convites para a festa.
“O meu cliente pediu que fossem
buscadas as câmeras [de segurança] do Carrefour, que fica em frente à
casa. Porque se pegarmos desde o momento que [a boate] abriu e a
movimentação, vai ser comprovado que não havia mais de 650 pessoas na
casa.”
O advogado disse que o uso de fogos de artifício pela
banda, dentro da boate, foi uma “surpresa”. “A banda fez isso de
surpresa, para causar um frisson. Eles inovaram, inventaram uma nova
apresentação naquele dia. Houve detonação do equipamento na mão do
gaiteiro, não houve isso em outros shows”, destacou.
Marques
disse que irá apresentar à polícia uma prova de que a casa estava sem as
câmeras de segurança no momento do incêndio. “É uma declaração assinada
pela empresa que está com esse equipamento há meses. Existe até uma
troca de e-mails com reclamação da boate sobre a demora da entrega. Já
desde antes as câmeras não estavam no local.”
Ele falou ainda
sobre a atitude dos seguranças que, segundo relatos de sobreviventes,
teriam impedido as pessoas de sair. “Talvez algum funcionário tenha
perguntado o que houve, não mais do que isso.”
O incêndio na Boate Kiss, ocorrido na madrugada de domingo (27), deixou 235 mortos e dezenas de feridos.